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Foto: Reprodução |
Se o esporte fosse um palco, Raul Seixas estaria no centro, com a camisa 10 nas costas e um microfone na mão. Não pela forma física — essa ele deixava pra depois — mas pela cabeça inquieta, pela ousadia de improvisar, pela criatividade que não segue manual de tática.
Imagina Raul comentando uma final de Copa do Mundo? Ele não gritaria “gol”. Ia berrar “metamorfose ambulante”. E se tivesse que falar com o elenco antes da partida, abriria com algo do tipo: “Senhores, antes de qualquer tática, aprendam a desobedecer.” E estaria certo.
O futebol sempre teve os seus malucos beleza. De Garrincha a Sócrates. De Tostão a Cantona. Gente que, como Raul, não jogava só com os pés, mas com o coração fora da chuteira. Que provocava, pensava, falava o que não se devia — e por isso entrava pra história.
Se estivesse vivo, Raul talvez não entendesse o VAR, os patrocínios no meião, o “entrevista coach” no pós-jogo. Mas certamente se emocionaria com uma bicicleta no último minuto. Com uma menina da ginástica superando o próprio corpo. Com um canoísta do interior virando herói olímpico.
Porque o esporte, quando é de verdade, é isso: uma canção tocada com o corpo. É suor rimando com glória. É derrota que ensina, é vitória que liberta.
Raul cantava o que a gente não tinha coragem de dizer. O esporte mostra o que a gente ainda tem coragem de sentir.
E se ele estivesse aí, talvez dissesse que o Brasil precisa menos de craques perfeitos e mais de malucos com propósito. Gente que erre, mas que esteja viva. Em campo, no tatame, no palco ou na vida.
Aos 80 anos, Raul continua escalado. Não saiu do time. É aquele meia clássico, que levanta a cabeça e grita pro time avançar:
“Sonhe... mas sonhe alto. Porque lá embaixo tá lotado.”
Raul não representa minha fé, mas representa uma geração que sonhou, enfrentou e criou. A crônica é uma reflexão sobre isso — com os pés no esporte e os olhos na alma.
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